Obrigada Dorothy Pitman Hughes

É com muito pesar e um senso profundo de gratidão que fazemos esta publicação, sobre a passagem da grande feminista antirracista Dorothy Pitman Hughes. Segundo seu obituário no site Legacy, […]

10 dez 2022, 12:10 Tempo de leitura: 4 minutos, 40 segundos
Obrigada Dorothy Pitman Hughes

É com muito pesar e um senso profundo de gratidão que fazemos esta publicação, sobre a passagem da grande feminista antirracista Dorothy Pitman Hughes. Segundo seu obituário no site Legacy, a ativista e co-fundadora da Ms. Magazine e da Women’s Action Alliance morreu em 1º de dezembro de 2022, aos 84 anos em Tampa, Flórida, na casa de sua filha e genro. 

Retrato de Dorothy Pitman Hughes por Richard Avedon, do Instagram da Avedon Foundation

Dorothy Pitman Hughes foi feminista antirracista defensora do bem-estar infantil, e prolífica oradora, autora e empreendedora. Nascida em 2 de outubro de 1938 em Lumpkin, Geórgia,  deixou a zona rural na década de 1950 determinada a lutar pelos direitos civis e pela igualdade. 

Quando tinha dez anos, seu pai foi espancado e deixado para morrer na porta da casa da família, que atribui o crime à Ku Klux Klan. Dorothy dedicou sua vida a melhorar as condições das pessoas por meio do ativismo, e em 1957, aos dezenove anos, se mudou para a cidade de Nova York. Lá, como organizadora comunitária, revolucionou a década de 1970, criando uma mudança duradoura ao revitalizar o West Side em que morava. O bairro, onde abundava discriminação racial, não tinha infra-estrutura ou creches, as moradias eram precárias, e a pobreza e os efeitos da Guerra do Vietnã eram evidentes. Hughes criou uma creche de alta qualidade, que também oferecia treinamento profissional, aulas de educação para adultos, um corpo de Ação Juvenil, assistência habitacional e recursos alimentares. 

Sua percepção de que a revitalização comunitária envolvendo e incluindo a comunidade ativamente é pioneira – e cada vez mais relevante. Em NY, Hughes também organizou o primeiro abrigo para mulheres vítimas de violência de gênero, e esteve nas fundações da Agência de Desenvolvimento Infantil da cidade, e da National Black Feminist Organization.

O módulo ‘Históricos e Histórias” do curso Laudelina de Campos Melo da Emancipa Mulher  conta sobre os feitos de mulheres negras e brancas contemporâneas, para estimular reflexão crítica sobre diferenças sociais que marcaram suas experiências. Uma das mulheres que compõem o nosso curso é Dorothy Pitman Hughes – que aparece ao lado da amiga de longa data, Gloria Steinem, e a quem ajudou a fundar a Ms Magazine.

Ms foi primeira revista feminista dos Estados Unidos. Em 1972 a publicação fez um especial sobre mulheres que haviam passado por procedimentos abortivos, e Hughes e Steinem participaram ativamente do manifesto, que ajudou a consolidar Roe v. Wade, a decisão histórica da Suprema Corte dos Estados Unidos, na qual o Tribunal decidiu que a Constituição protege a liberdade de uma pessoa grávida de optar por fazer um aborto – e que foi anulada pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 2022.

De acordo com sua biógrafa, Lauren L. Lovett: “O estilo de Dorothy era denunciar o racismo que ela via no movimento das mulheres brancas. Ela frequentemente subia ao palco para articular a maneira como o privilégio das mulheres brancas oprimia as mulheres negras, mas também oferecia sua amizade com Gloria como prova de que esse obstáculo poderia ser superado.”

As duas percorreram os Estados Unidos educando sobre feminismo, raça e desigualdades sociais. Ao longo de sua vida, Pitman Hughes procurou tornar a vida das mulheres melhor, trabalhando para capacitar as comunidades a atender suas necessidades, com cuidado infantil, reconhecimento da beleza inerente das mulheres negras, ou acesso a recursos econômicos e alimentos saudáveis. 

Pitman Hughes teve uma profícua vida de ativismo, educação e empreendedorismo. Foi professora convidada na City College de Manhattan e na Universidade de Columbia, onde ministrou um curso chamado “The Dynamics of Change” no College of New Rochelle. Em 1992 co-fundou a Sociedade de Preservação Histórica de Charles Junction em Jacksonville, Flórida, para combater a pobreza por meio de jardinagem comunitária e produção de alimentos. Em 1997 se tornou a primeira mulher afro-americana a possuir um centro de material de escritório/cópia, Harlem Office Supply, Inc., e a se tornar membro da Stationers Association of New York (SANY). Em maio de 1997 passou a oferecer ações da HOS a US$1,00 para indivíduos, corporações, parcerias e organizações sem fins lucrativos focadas em crianças negras, e escreveu sobre suas experiências no livro “Wake Up and Smell the Dollars! (2000)”. No filme “The Glorias”, de Julie Taymor, de 2020, Dorothy Pitman Hughes foi interpretada pela cantora, atriz e tesouro mundial Janelle Monáe.


  Julianne Moore e Janelle Monáe em The Glorias (2020). Dan Mcfaden. Via IMDb.

Rest In Power, Dorothy Pitman Hughes! Daqui, nós te saudamos, e prometemos dedicar nossas vidas a honrar seu inspirador e potente legado. 

Obituário por Joanna Burigo
10/12/2022
Com informações de